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  • Foto do escritorInês Galrito

A diversidade na corrida para um só golo

Atualizado: 16 de set. de 2022

Não começou às 09h10, como estava previsto, mas o pontapé de saída foi dado pouco tempo depois. A primeira roundtable do dia, em português ‘mesa redonda’, foi moderada por Kate Hamer, COO e co-fundadora da AxisStars, e contou com a presença de Arun Kang, Chefe Executivo da Sporting Equals Ltd., Densign White, CEO da IMMAF, Daniela Bas, Diretora da Divisão para o Desenvolvimento Social Inclusivo das Nações Unidas, Paul Elliott, Presidente do Conselho Consultivo de Inclusão da The Football Association, Yath Gangakumaran, Diretor Comercial da Sky Sports e Matt McCann, fundador e CEO da Access Earth.


Da esquerda para a direita, Kate Hamer, Densign White, Arun Kang, Paul Elliott e Daniela Bas.


As sessões deste que é o último dia do evento seguem a linha orientadora do SIGA GRID FORUM com o intuito de chamar à atenção, através de debates, para a ação que se pede imediata e que é imprescindível ao progresso. Aqui, a temática da ‘inclusão’ foi o prato do dia. Concordante com a missão da SIGA, o debate centrou-se na urgência de diversificar as equipas que compõem as várias empresas, como intermédio à total integração de todos aqueles que vibram com o desporto.


Somos uma organização não governamental que trabalha para aumentar a participação da comunidade negra no desporto britânico”: esta é a missão da Sporting Equals Ltd., organização que auxilia, para além da esfera desportiva, vítimas de descriminação racial. Com experiência de uma luta diária pela diversidade, o Chefe Executivo começou por afirmar que “o melhor a fazer é ter pessoas de etnias diferentes no comando das decisões, porque se isso não acontecer apenas uma etnia ou um gênero é refletido”. No final do dia, por entre todas as diferenças que une, há que valorizar a história pessoal de cada um: “Tem tudo a ver com a experiência de vida: educação, línguas, onde vive. isso é importante para todas as comunidades no país. Estou muito grato por a SIGA liderar o caminho internacional, porque se no quadro diretivo das organizações nada mudar, a sociedade não se beneficiará de qualquer mudança”.


Segundo Arun Kang, publicitar a diversidade só funciona quando as empresas a refletem: “Tens de publicitar muito mais as intervenções que realizas caso a tua estrutura organizacional não reflita a diversidade que promovem: por vezes as perceções são reais, e se há a perceção de que o quadro de membros da tua empresa não acolhe diferentes etnias, provavelmente é a realidade.” Para a Sky Sports, defender a diversidade vai para além de ‘praticar o bem’: “Nós acreditamos que é bom para o negócio. Atraímos mais público com diferentes backgrounds, e, consequentemente, aumentamos o valor da empresa”, disse, à distância, Yath Gangakumaran.


Promover a diversidade numa empresa não significa centrar a concretização do ideal no seu quadro diretivo. A par das mudanças que implementou na IMMAF, o CEO Densign White afirmou que garantir a diversidade somente entre os membros direção não é suficiente: “Temos trabalhado para ter uma maior diversidade na organização, especialmente no quadro diretivo. Começámos o processo por mudar o estatuto para que aprovasse membros fora da UE: temos colaborações com a Oceânia, a Austrália e a Ásia. Tentamos encorajar o banimento de diferenças de género entre todos, e pelo menos 30% do nosso quadro corresponde, atualmente, a lugares obrigatoriamente ocupados por mulheres. A liderança tem de ser motivada para que as mudanças ocorram: falamos na diversidade na direção, mas e nos funcionários? Esse grupo é que dá a cara.” Se dúvidas houvesse, White simplificou: “Não tem havido uma mulher na fórmula 1 há 46 anos. Isso diz tudo.”


Quanto à verificação da diversidade de uma empresa no ramo desportivo, Matt McCann afirmou: “O desporto não começou no estádio: interessa saber tudo aquilo que acontece até chegarmos lá. Se formos realmente inclusivos, o desporto não se cinge ao estádio”. O CEO da Access Earth, que se juntou ao painel por videochamada, garantiu ser urgente as empresas rumarem em direção à comunicação igualitária, e apelou a que tomem iniciativa: “Temos de ser capazes de interagir com todas as famílias, todos os adeptos. Temos de ter a certeza de que inclui todos os aspetos e áreas da nossa comunidade, e o desporto é um ótimo intermédio para que isso aconteça. Há alguns clubes que tentam melhorar estes aspetos, mas há outros que se tornam defensivos e preferem fechar os olhos àquilo que não implementam.


Nem as Nações Unidas escapam a esta regra, e foi a Diretora da Divisão para o Desenvolvimento Social Inclusivo das Nações Unidas quem o garantiu: “Nas Nações Unidas também trabalhamos para diversificar a equipa. Somos uma organização como qualquer outra.” A necessidade de conscientização das diferenças entre várias culturas foi um dos tópicos que Daniela Bas destacou: “A mímica pode ser ofensiva numa cultura e não noutra. Têm de haver linhas orientadoras de comunicação”. Para lá das normas de socialização que regem qualquer relação interpessoal, concluiu serem as infraestruturas, tanto físicas como digitais, a chave para a inclusão: “Se temos boas infraestruturas disponíveis a todos, tudo aquilo que o desporto oferece tem de ser inclusivo. Se isso acontecer, acontece uma mudança cultural e, consequentemente, mental e comportamental da sociedade. Uma rampa pode ser utilizada por muita gente: grávidas, pessoas com algum tipo de desabilidade, pessoas idosas.” Na sequência, e num momento que muitos convidados promovem, tomou as rédeas numa reflexão conjunta com audiência: “O desporto tem de ser acessível para todos: os que não têm qualquer tipo de dificuldade motora, e os que têm. Imaginem-me, ‘petit’, e este senhor ao meu lado, alto, e uma parede com 2,50m. Para chegarmos ao topo da parede, dão-nos bancos com a mesma altura. Acham que assim iríamos ambos conseguir chegar lá? Não, apenas ele. Igualdade é serem-nos dadas a todos condições. Mas as condições que cada um necessita para alcançar um objetivo comum.”


Perante os erros do passado e, para muitos, a ‘lentidão’ na ação do presente, a pergunta que se manteve foi “Que mais podemos fazer para tornar o desporto mais inclusivo?”. A ela todos os intervenientes responderam: Paul Elliot não hesitou em responder: “Podemos só fazê-lo. Temos de nos comprometer e não ter medo de desafiar as pessoas nas questões da igualdade.” Para McCann, assistir ao golo é a garantia de que é marcado: “Temos de ter a certeza de que jogamos todos na mesma equipa e de que todos têm a mesma experiência.” À distância, Wong disse ser necessário entendermos que “cada pessoa tem uma necessidade distinta” e que “diversidade não é ter várias cores ou géneros”. Já quase percorrido todo o painel, Paul Elliott garantiu a incompatibilidade de “fazer progressos sem saber de onde tudo começou”, e White lamentou o racismo sistêmico e muitas empresas: “As organizações devem ser mais proativas do que reativas”, disse. Daniela Bas não esqueceu o poder da comunicação, e afirmou que “a forma como comunicamos, as palavras que usamos, a imagem que transmitimos” têm poder. Ainda assim, “é importante não tornar nada específico, vamos incluir toda a gente em tudo, porque o desporto, no final do dia, é divertido.”


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